sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Cadeira Nº 10 - Irineu Joffily

Pequena biografia em versos de cordel

Josephus Filli, o filho de Zé Luiz
(Que viva o “vilão leproso” I)1

O Império do Brazil ainda estava
Sob o escravismo irracional
Quando se registraria por aqui
Um grande evento, um natal:
Nasceria o filho de José Luiz
A quinze de fevereiro, dia feliz,
A esperança se faria genial.
II
Ceciliano Pereira da Costa,
Sobrenome familiar, colonial,
Ele, aos poucos, teria rejeitado,
E astuto, numa atitude genial,
Inspirado no latim o filho de Zé
Só se via Joffily, e fincaria pé,
Mudara, então, por meio legal.
III
Com vinte e um anos, o jornal
Diário de Pernambuco noticia
A mudança de nome de Irineu
Ato movido por amor e alegria.
Ato político, à época, em moda,
No que só à nobreza incomoda:
Aristocrata em mudança radical.
IV
E fundaria por aqui uma Gazeta
Abolição é defendida pelo tal
E o jornalista defendia sua ideia
Aos quinze anos já nutria o ideal.
E seu saber enquanto historiador
E sua ação no papel de promotor
Promoveria toda gente a ser igual.
V
“Ireneo Joffly”, a despeito da origem,
Assentada numa aristocracia rural,
Não aceitava o domínio estrangeiro
Nem as mazelas da vida subnormal
Fez sua política pela democracia
Estudou com Castro Alves a magia
Se fez poeta e deputado provincial.
VI
O humanista, literato bom de pena,
Se destacou no Rio antigo, a Capital,
O geógrafo refez mapa e publicou
Fez militância no Partido Liberal.
“Ligado a terra e ao povo do Sertão”
Vereador, juiz, nunca foi de omissão,
Com a donzela Rachel formou casal.
VII
Em fevereiro de novecentos e dois
Antes dos sessenta anos de natal
Morre o intelectual, que em vida,
Enfrentou a exploração, o arsenal,
Quem vivia e atuava sem perdão
E empastelou a Gazeta do Sertão
Mas não matou do idealista o ideal!

Irineu Joffily é meu patrono, ilustre filho da Esperança
(Que viva o “vilão leproso” II)2

VIII
De Esperança a Cajazeiras
E até pra fora do Estado
Irineu, desde a infância,
Cavalgava encantado.
Venceu montanhas e rios
Superou seus desafios
Por essa terra apaixonado.
IX
A primeira das cavalgadas
Foi aos 12 anos de idade
Saindo de Esperança até
A velha e nobre cidade:
Com Pe. Rolim estudou
No internato se formou
Um paraibano de verdade.
X
De Cajazeiras a Inhamuns
Pelo interior do Ceará
Fez também essa viagem
Depois de um ano por lá:
Mas contados onze anos
Retomaria os seus planos
Pela Paraíba a desbravar.
XI
Nas andanças, cavalgadas,
Pelos Sertões e interiores,
O Índio Cariri, o afamado,
Construiu saber, seus labores,
Informações que mudaram
Nosso mapa, redesenharam
A Paraíba, em seus alvores.
XII
E depois de viver assim e
Aventurar-se a escalar a
Serra do Pico, de Batalhão,
A atual e famosa Taperoá
Os desafetos não queriam
Admitir e assim eles fariam
Tudo pro mapa não mudar.
XIII
Mas a verdade científica
Dos seus Estudos Sociais
Se mostraria um possante
Conjunto de sensacionais
Retratos da nossa terra
Da gente que nela gera
Muita riqueza, tudo faz.
XIV
Como a gente, não se cansava,
Até onde a memória alcança
Por todo bem se interessava
E pra todos deixou a herança
Nunca o povo em abandono
Irineu Joffily é meu patrono
Ilustre filho da Esperança.

Mas o ilustre filho esperancense se opôs com sua verve idealista
(Que viva o “vilão leproso” III)3

XV
Os inimigos do nosso patrono,
Como quem tira proveito, orgulhoso,
Da dor alheia ante uma desgraça,
Tratavam Irineu por “vilão leproso”.
Como quem rouba doce de criança
Como quem não consegue aliança
Para praticar o intuito horroroso.
XVI
E como todo tipo de preconceito,
Se articula de modo laborioso,
Pra tirar proveito da fragilidade,
Da qual se vitima um desditoso.
Se o mal de Hansen o acometeu
Se aproveita, em vão, fariseu,
Opositor, desafeto e poderoso.
XVII
O centenário de morte comemorado
Em dois mil e dois, sem engano,
Lembrou pra muitos estudantes
Que da cadeira dois ele é patrono
No instituto paraibano IHGP
Por História e Geografia pode ser
Reconhecido pioneiro, um decano.
XVIII
Imortalizado na cadeira quinze da
Academia de Letras de Campinense,
O autor de Notas sobre a Parahyba
Pode ser considerado pocinhence…
Como homem de letras se notabilizou
Mas foi em Banabuyê que ele brotou
Por isso afirme: ele é esperancense.
XIX
Na oportuna homenagem da ALC
Escreveu Amaury Vasconcelos
Sobre o “Grande Historiador”
O nosso Irineu, sem paralelos.
Citando Geraldo Irineu, o neto,
Demonstrando todo seu afeto
Pelas escolhas e atos tão belos.
XX
Antonio Soares, por sua vez,
Faz poesia no formato violão
Do mapa da Paraíba de Irineu
“Homem de Letras” por vocação.
Epaminondas Câmara ele cita
A nossa curiosidade ele incita
Pro escritor articulista da União.
XXI
“O humanista Irineu Joffily”
No texto de José Cláudio Batista
Usa a palavra pela independência
Diante dos portugueses elitistas.
Dominavam o comércio recifense
Mas o ilustre filho esperancense
Se opôs com sua verve idealista.

NOTAS:
Em 2002, a Academia de Letras de Campina Grande/ALC prestou homenagem ao Irinêo Ceciliano Pereira da Costa (*15/02/1843 - † 08/02/1902), Irineu Joffily, pela passagem do segundo centenário de morte do ilustre filho dessa região, ora campinense, ora pocinhense e, certamente esperancense, “nascido na casa das lascas, Banabuyê, fazenda Lajedo, lugarejo de Pocinhos, hoje município de Esperança.”. Seu nome foi grafado de várias formas, Irenêo Joffly, por exemplo, mas Irineu Joffily se estabelece já a partir de 30 de maio de 1890. Em 932, Esperança presta homenagem, dando o nome dele a primeira escola do município.

O cavalo era o meio de transporte principal no século 19. O menino Irineu, depois o homem, adulto, comprometido com a sua terra e com os seus conterrâneos, pesquisa tudo que lhe permitiam as condições do seu tempo. Assim, o atual desenho do mapa do estado da Paraíba deve a ele as informações que o fizeram deixar de ser apenas especulação.

A homenagem da Academia de Letras de Campina Grande, pela passagem do centenário de morte de Irineu Joffily, revela a importância histórica dele. Mostra como se é capaz, para o bem e para o mal, de escolher o ataque covarde. Melhor, ainda, reconhece a contribuição que cada um pode dar por sua terra e por seus conterrâneos, contemporâneos e pela posteridade.

FONTE: PBLetras, junho de 2002, Campina Grande/PB.

EXTRA
Um encontro do Índio Cariri com o Poeta dos Cisnes
(Irineu Joffily recebe sorrindo Silvino Olavo da Costa)4

I
Quando Silvino morreu
Sem registro de emoção
Vivia fora do glorioso
Tempo da emancipação.
Imagino pouca gente
No enterro daquele ente
Em modesta situação.
II
Quando Silvino ascendeu
Teve alta proclamação
Pois voltara a sua pátria
De onde veio em missão
E com fogos de artifício
Nobre arte e duro ofício
Foram a sua redenção.
III
Um cordelista foi por lá
Numa noite sem dormir
Foi só pra testemunhar
E avistou o Índio Cariri
Com o Poeta dos Cisnes
Eles caminhavam firmes
A comentar dos daqui.
IV
Irineu recebe sorrindo
Silvino Olavo da Costa
Quer saber da Paraíba
Do povo que ele gosta
E o poeta recuperado
Do viver atormentado
Na saudade se acosta.
V
Fala de uma abolição
Que não era a de Irineu
Fala de uma república
Do quanto ela pereceu
Do povo que ainda sofre
Limpeza de tanto cofre
De como tudo se deu.
VI
E Irineu sem desespero
A sorrir para o poeta
Explica que só o tempo
Supera tudo e afeta
Quem manipula a razão
E o povo em expiação
Como ensinou um profeta.
VII
E os dois ladeiam um rio
Como se fossem crianças
E se lançam em desafio
Renovando as alianças:
De quando assim retornar
Cada missão retomar
Num fio de esperanças.

NOTA:
Índio Cariri era pseudônimo de Irineu Joffily. Silvino foi chamado Poeta dos Cisnes. Ele, ao morrer em 969, deixa o ostracismo e retorna a pátria celestial. Imagina-se aqui uma saída modesta, uma chegada triunfal e um diálogo sobre as lutas de Irineu e o planejamento da reencarnação deles, em missão.


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