Silvino Olavo: Vida e trajetória, por Gustavo Tavares Pereira[1]
1. Introdução
Silvino Olavo da Costa |
Em
1921, parte para o Rio de Janeiro e inicia sua vida acadêmica. Na ocasião
trabalhou nos correios e telégrafos para poder ajudar a se manter em território
carioca, e simultaneamente tornasse escritor da revista “Época” produzida pelos
os alunos do seu curso. Forma-se em Bacharel em Ciências Jurídicas no ano de
1924, com o reconhecimento de ser orador oficial da turma, com isso publica dois
trabalhos “Cysnes” seu primeiro livro de poesias e “A Estética do Direito” que
foi sua tese de conclusão de curso.
Retornando
a Paraíba no ano seguinte, lança o levante em prol da emancipação municipal de
sua terra natal, onde proclama o seu famoso discurso “Esperança – Lírio Verde
da Borborema”. Em 1926 estreia no suplemente Arte e Literatura do jornal “A
União”, órgão oficial do Governo do Estado da Paraíba. Um ano após edita mais
um livro poético, “Sombra Iluminada”, e começa a trabalhar como Fiscal de
Consumo na cidade de Vitoria – ES.
Novamente
volta ao seu Estado natal em 1928 e é nomeado chefe de Gabinete do Governo de
João Pessoa. Já no ano de 1929 casasse com sua noiva Carmélia Veloso Borges,
juntos tiveram a sua única filha Marisa Veloso Costa, que faleceu aos 12 anos
de idade. Após a morte de João Pessoa já na década de 30, passou a apresentar
um quadro de esquizofrenia. Durante os intervalos lúcidos produziu diversos
poemas e eternizou sua musa “Badiva”. Mas no ano de 1969 vitima de complicações
renais o poeta veio a falecer no Hospital Dr. João Ribeiro, em Campina Grande. Silvino
Olavo da Costa é o patrono da cadeira 25 da Academia de Letras de Campina
Grande, com assento na de número 14 da Academia Paraibana de Poesia.
2.
Os seus primeiros passos
Nascido
no dia 27 de julho de 1897 o poeta Silvino Olavo teve seus primeiros passos na
Fazenda Lagoa do Açude, que era propriedade de seu pai e sua mãe o Coronel
Cândido e Dona Josefa Martins. No mesmo ano o casal levou o recém-nascido a
Capela N. S. do Bom Conselho na Vila de Esperança, para ser batizado dando-lhe
o nome de Silvino Olavo da Costa. Na chegada a fase de início de estudos, foi
matriculado na escola do professor Juviano Sobreira e Maria Augusta Sobreira.
Seu pai que era um grande criador de
gado queria que Silvino seguisse os seus passos, mas em 1915 resolveu ir com
toda a família para a cidade e assim seguiu a vida de comerciante, mas contra
os planos do seu pai decidiu seguir outros caminhos.
Após uma desilusão amorosa Silvino
fugiu para João Pessoa, com destino de ir pra casa de sua tia Henriqueta de
Souza, sabendo disso o seu pai se preocupou com seus estudos e o matriculou no
colégio Pio X. Este colégio era um dos mais renomados da capital paraibana e
Silvino Olavo sendo um aluno exemplar bastante dedicado conseguiu se destacar
bastante, com tanto destaque ganhou a Medalha de Honra ao Mérito em 1916 e foi
nomeado orador oficial de sua turma. Encerrou seus estudos fundamentais e
partiu para o Rio de Janeiro, lá ele fez seu exame vestibular e no ano de 1921
foi aprovado para o curso de Ciências Judiciais.
3.
Vida acadêmica
O
estudante da importante Faculdade Nacional de Direito se hospedava em uma pensão,
com isso ele tinha mais gastos e para ajudar a mesada que recebia de seu pai
começou a trabalhar na agencia de Correios e Telégrafos.
Na sua instituição de estudo foi
redator da revista “A Época” onde publicou alguns artigos. Sendo um aluno
distinto e aplicado a maioria dos seus colegas de sala indicaram que o poeta
fosse o orador oficial da turma, que além de ser poeta se tinha a vantagem de
não ser um aluno transferido.
Chegando ao final de seu curso
Silvino publica sua tese “Estética do Direito” (1924) que foi até traduzida
para o inglês. Neste mesmo ano também publica sua obra prima “Cysnes” que lhe
rendeu um conhecimento a nível nacional, que lhe fez ser reconhecido “Silvino Olavo era uma inteligência
multiforme” (PINTO, 1962, p. 142). Ainda
na capital federal participou da Academia de Letras e Ciência, e da Academia
Brasileira de Letras, onde se encontra apresentações de seus poemas.
4.
Regresso a Paraíba
Já
como graduado o poeta regressa a Paraíba no ano de 1925 na companhia de seu
amigo Peryllo D´Oliveira. Na Vila de Esperança Silvino inicia um levante em
prol da emancipação, no dia 22 de maio de 1925, o então Governador da Paraíba João
Suassuna compareceu com sua comitiva para a inauguração da luz elétrica na Vila.
Vendo a oportunidade o poeta declama o seu famoso discurso “Esperança Lírio
Verde da Borborema” que foi o estopim para o movimento de emancipação.
“Esperança Lírio Verde da Borborema,
terra de juventude e de fé, sente-se hoje transfigurada no justo orgulho que a
domina, na hora insigne a empolga, de receber, no seio de sua simplicidade
comovida, uma das figuras mais representativas da sã política nacional.
Esperança arvore nova, não consentirá em ser força dos arbustos que vicejam a
sua sombra... E se o fizer, que o anátema da natureza caia sobre ela em todas
os cóleras e tempestades e os duendes e espectros fantásticos bailem no seu
sono atormentando, porque Esperança arvore nova, tem a natureza de querer ser
também arvore boa, para prodigalizar, com a sua esplendidez nutridora do fruto,
a fecundidade da semente e a espiritualidade do perfume” Olavo apud Ferreira
(2010, p. 65, 66).
Sendo conhecido como poeta, uniu-se
com intelectuais da época e começou a sua produção literária escrevendo para
vários periódicos, chamado de “Grupo dos Novos” que foi fundado por Silvino
Olavo, onde destinava-se a promover reuniões literárias, na companhia de
Amarílio Albuquerque, Eudes Barros, Raul de Góis e Peryllo D´Oliveira. Posteriormente
foi chamado pelo Dr. José Gaudêncio para começa a chefiar a redação de “O
Jornal”, participando também das publicações da revista “Era Nova” (1921-1926)
e simultaneamente corresponde com o jornal “A Província” do Rio de Janeiro.
No ano de 1926 começa a escrever
para o suplemento Arte e Literatura do Jornal “A União” e em março do mesmo ano
é nomeado promotor público em João Pessoa, onde foi inserido posteriormente no
Conselho Penitenciário, que era uma Comissão constituída de autoridades,
advogados e médicos, a qual era atribuída às funções de emitir pareceres sobre
a liberdade condicional dos apenados.
5.
O laço de amizade com o Dr. João Pessoa
Em
1927, após fazer um concurso publico é aprovado para ser Agente Fiscal do
Imposto de Consumo, em Vitória-ES, após honrar dignamente sua função no Estado
de Espírito Santo, vem de maneira interina exercer sua função, ainda no mesmo
ano. Ligando a política o poeta é nomeado pelo Governador João Pessoa, Oficial
de Gabinete, estando nessa condição Silvino sempre acompanhou o Governador João
Pessoa em suas viagens e representou o Governador em diversas ocasiões,
principalmente pelo seu dom da oralidade.
Nos
anos de 1929 e 1930 grandes companheiros de caminhada política chegam a
falecer, João da Mata Correia Lima, João Suassuna e seu amigo João Pessoa, no
meio dessas perdas de entes queridos Silvino veio a apresentar sintomas de
esquizofrenia, iniciou assim a fazer o tratamento que se dava a época nos hospitais
psiquiátricos, mas em nada contribuiu, sua saúde passava por uma situação cada
vez mais grave. Quando ele tinha alguns intervalos lúcidos aproveitava para
escrever, mas em maio de 1934 foi internado por sua própria esposa alegando que
sua psicose lhe privava de suas atividades regulares, primeiro no Hospital de
Doenças Mentais e Nervosas do Recife e depois no Hospital Juliano Moreira na
Capital paraibana, onde passou mais de duas décadas recolhido.
6.
O amor e as produções literárias
Ainda em seu período de
adolescência Silvino chegou a sofrer por amor, quando ficou de coração
amargurado por conta de Severina, uma jovem que encantou seu coração, mas que
lhe deixou abalado e lhe fez dizer “No
meu jardim, de amor, foste a primeira”[2].
Em buscar de esquecer Severina e conseguir uma mulher que pudesse lhe fazer
feliz o poeta conhece a jovem e bela Tércia, que chegou a noivar com a mesma.
Mas algum tempo depois conheceu aquela que séria a mulher de sua vida,
Carmélia, filha do Coronel Anísio e Dona Virginia. Já em novembro de 1929
Silvino tem o prazer de casar com sua noiva Carmélia
Veloso Borges, na cidade de Pilar, deixando para trás todos os amores que
machucaram o coração do poeta, juntos, Silvino e Carmélia tiveram a sua única
filha Marisa Veloso Costa, que nasceu um ano e três meses após o casório, a
filha querida teve uma vida passageira, vitima de um ataque cardíaco acabou
morrendo aos 12 anos deixando muitas saudades nos corações de seus pais.
No
ano de 1927 o poeta lança seu segundo livro de versos “Sombra iluminada”,
editado no Rio de Janeiro, e também o seu estudo literário “Cordialidade”. Esse
livro de versos produzido pelo autor teve um grande destaque e foi comentado
por grandes intelectuais da época, com destaque para Samuel Duarte. “a projeção crepuscular de um poeta que
visiona, na paisagem humana do sentimento, harmonias discretas, em notas
fugitivas que apenas deixam um rumor de asa macia e passam”. (Ferreira, 2014,
pág. 41). Sendo nessa época comum autores comentarem a literatura nos jornais, outros
intelectuais também fizeram análises acerca de suas obras Cysnes (1924) e
Sombra Iluminada (1927). Como exemplo Rodrigo Octavio. “São poemas belos pelo conceito que os anima e pela forma porque se
apresentam.” (Francisco, Cardoso, 1985, p. 99). Um dos poemas de mais
destaque será:
CISNE BRANCO
O cisne branco nada sobre o lago
Rola tão leve que nos causa mágoa
e a sua sombra, refletindo n'água
rola tão leve com um sonho vago
E, assim, rolando, num prestígio magro,
o espírito parece da Mãe d'água
- ouço-lhe a voz e, intimamente, afago-a
como o que mais mereça meu afago
Ah essa voz que canta, e depois cala
Ah essa voz que a mim, somente, fala,
como a Nereide o búzio suas mágoas
Amo essa voz, porque essa voz suave
é a voz de minha dor, que em forma de ave,
vai rolando e cantando sobre as águas.
(Francisco, Cardoso, 1985, p. 21).
Dois anos depois da publicação e reconhecimento de suas obras
Silvino teve a oportunidade de ter contato com Mário de Andrade o pioneiro da
poesia moderna brasileira com a publicação de seu livro Pauliceia Desvairada (1922),
e autor da obra Macunaíma (1928).
No final do século XIX o simbolismo surgiu na França, sendo
um movimento literário da poesia e das outras artes, que ganhou destaque na
Paraíba principalmente pela a imagem de Silvino Olavo, pois o sua
subjetividade, a exaltação do místico e o sobrenatural encaixavam perfeitamente
nesse movimento literário.
7.
À volta para a cidade
natal e seus últimos anos de vida
Sendo internado em 1934 por sua
esposa em um hospital da Capital paraibana, a mesma só resistiu a rotina dura
hospitalar com seu marido por 10 anos, quando veio a falecer. Nessa ocasião
quem passou a ser o curador do poeta foi seu irmão Dr. Sebastião Cândido da
Costa, que recebeu a ajuda dos demais familiares, os últimos anos de vida do
ilustre esperancense foram em Esperança no Sítio Bela Vista, onde manteve o
costume de passear diariamente pela cidade. Com agravação total dos problemas de sua saúde
Silvino Olavo veio a falecer em 1969, vitima de edema pulmonar agudo.
Foram feitas homenagens pra nunca se
esquecer a importância desse poeta para o Estado da Paraíba e a cidade de Esperança,
antiga Banabuyé. A exemplo pode-se citar a denominação com seu nome, no centro
cultural e biblioteca e no fórum da sala da defensoria na cidade de Esperança.
A atual capital da Paraíba também se tem uma homenagem dando lhe o nome a uma
rua no bairro de Tambauzinho. Na Academia de Letras de Campina Grande o
esperancense é imortalizado com a cadeira de número 35 e Esperança comemora o
seu centenário, com vários eventos. A “Revista Esperança” edita diversos
artigos relacionados e alguns de seus versos. Marinaldo Francisco publica
“Badiva” com o apoio da prefeitura local, que reúne vasto material do poeta, e
a partir de 05 de Agosto de 2018 será homenageado pelo Instituto Histórico e
Geográfico de Esperança – IHGE, com a cadeira de número 20.
8.
Considerações Finais
Com enorme orgulho foi um prazer
conhecer e produzir sobre a figura do ilustre conterrâneo Silvino Olavo da
Costa, essa pesquisa luta para alcançar o objetivo de que a população tenha
cada vez mais conhecimento dessa personalidade única, aqui foi mostrada toda a sua
vida, foi visto a sua importância na literatura, no jornalismo e na emancipação
do município de Esperança, sempre em busca de conhecer mais sobre o poeta e
advogado que alcançou a inserção no grupo dos intelectuais brasileiros do
século XX.
Portanto
é notado que a arte seria como diz Richard Wollheim, uma “forma de vida”. O
poeta nos deixou claro de que toda sua inspiração vinha de sua imaginação e
suas emoções, onde conseguiu de maneira admirável transcrever sensibilidade e
autenticidade através de seus versos.
Este
grande poeta deixou-nos como legado as seguintes obras: Cysnes
(1924), Estética do Direito (1924), Esperança – Lírio Verde da Borborema
Discurso (1925), Sombra Iluminada (1927), Cordialidade
de – Estudo Literário - 1º Série – N. York (1927) e Badiva, obra póstuma (1997).
Gustavo Tavares
Referências bibliográficas
- COSTA, Hasenclever Ferreira.
Pseud. Rau Ferreira. Silvino Olavo. Epgraf. Campina Grande/PB: 2010.
- MAURÍCIO, João de Deus. A vida Dramática de
Silvino Olavo. Unigraf. João Pessoa/PB: 1992.
-
BATISTA, Simone Vieira. A trajetória
intelectual de Silvino Olavo: uma análise histórica, cultural e educacional.
2011. 109 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal da Paraíba,
João Pessoa, 2011.
-
FRANCISCO, Marinaldo, CARDOSO,
Roberto (Org). Cisnes/Sombra Iluminada. Editora Campina Grande. Campina Grande:
1985.
- Blog História esperancense (http://historiaesperancense.blogspot.com/2014/05/silvino-olavo.html),
acesso em 01/07/2018.
- Blog História
esperancense (http://historiaesperancense.blogspot.com/2017/11/discurso-de-posse-na-alcg.html),
acesso em 05/07/2018.
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