quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Cadeira nº 20 - Silvino Olavo da Costa


Silvino Olavo: Vida e trajetória, por Gustavo Tavares Pereira[1]
1.     Introdução

      
Silvino Olavo da Costa
  
Os referentes estudos e pesquisas que aqui serão apresentados foram realizados (as) em busca de homenagear o poeta, político, advogado e jornalista, Silvino Olavo da Costa, no intuito de ressaltar a importância desse ilustre esperancense para o município de Esperança – PB. Ele nasceu em 27 de julho de 1897, na Fazenda Lagoa do Açude, filho do Coronel Manoel Joaquim Cândido e Josefa Martins Costa. Seu pai foi um grande fazendeiro que no ano de 1915 resolveu se mudar para cidade com toda sua família, onde se inseri no comercio abrindo uma mercearia. A partir desse momento a vida na educação cientifica é iniciada por Silvino Olavo, tendo a oportunidade de ter suas primeiras lições com Joviano e Maria Augusta Sobreira. Após passar por uma desilusão amorosa, parte para a cidade de João Pessoa em busca de dar uma continuidade nos seus estudos no Colégio Pio X, sendo presenteado com a medalha de Honra ao Mérito por toda sua dedicação na vida estudantil em 1916.
Em 1921, parte para o Rio de Janeiro e inicia sua vida acadêmica. Na ocasião trabalhou nos correios e telégrafos para poder ajudar a se manter em território carioca, e simultaneamente tornasse escritor da revista “Época” produzida pelos os alunos do seu curso. Forma-se em Bacharel em Ciências Jurídicas no ano de 1924, com o reconhecimento de ser orador oficial da turma, com isso publica dois trabalhos “Cysnes” seu primeiro livro de poesias e “A Estética do Direito” que foi sua tese de conclusão de curso.
Retornando a Paraíba no ano seguinte, lança o levante em prol da emancipação municipal de sua terra natal, onde proclama o seu famoso discurso “Esperança – Lírio Verde da Borborema”. Em 1926 estreia no suplemente Arte e Literatura do jornal “A União”, órgão oficial do Governo do Estado da Paraíba. Um ano após edita mais um livro poético, “Sombra Iluminada”, e começa a trabalhar como Fiscal de Consumo na cidade de Vitoria – ES.
Novamente volta ao seu Estado natal em 1928 e é nomeado chefe de Gabinete do Governo de João Pessoa. Já no ano de 1929 casasse com sua noiva Carmélia Veloso Borges, juntos tiveram a sua única filha Marisa Veloso Costa, que faleceu aos 12 anos de idade. Após a morte de João Pessoa já na década de 30, passou a apresentar um quadro de esquizofrenia. Durante os intervalos lúcidos produziu diversos poemas e eternizou sua musa “Badiva”. Mas no ano de 1969 vitima de complicações renais o poeta veio a falecer no Hospital Dr. João Ribeiro, em Campina Grande. Silvino Olavo da Costa é o patrono da cadeira 25 da Academia de Letras de Campina Grande, com assento na de número 14 da Academia Paraibana de Poesia.

2.   Os seus primeiros passos

Nascido no dia 27 de julho de 1897 o poeta Silvino Olavo teve seus primeiros passos na Fazenda Lagoa do Açude, que era propriedade de seu pai e sua mãe o Coronel Cândido e Dona Josefa Martins. No mesmo ano o casal levou o recém-nascido a Capela N. S. do Bom Conselho na Vila de Esperança, para ser batizado dando-lhe o nome de Silvino Olavo da Costa. Na chegada a fase de início de estudos, foi matriculado na escola do professor Juviano Sobreira e Maria Augusta Sobreira.
            Seu pai que era um grande criador de gado queria que Silvino seguisse os seus passos, mas em 1915 resolveu ir com toda a família para a cidade e assim seguiu a vida de comerciante, mas contra os planos do seu pai decidiu seguir outros caminhos.
            Após uma desilusão amorosa Silvino fugiu para João Pessoa, com destino de ir pra casa de sua tia Henriqueta de Souza, sabendo disso o seu pai se preocupou com seus estudos e o matriculou no colégio Pio X. Este colégio era um dos mais renomados da capital paraibana e Silvino Olavo sendo um aluno exemplar bastante dedicado conseguiu se destacar bastante, com tanto destaque ganhou a Medalha de Honra ao Mérito em 1916 e foi nomeado orador oficial de sua turma. Encerrou seus estudos fundamentais e partiu para o Rio de Janeiro, lá ele fez seu exame vestibular e no ano de 1921 foi aprovado para o curso de Ciências Judiciais.

3.   Vida acadêmica

O estudante da importante Faculdade Nacional de Direito se hospedava em uma pensão, com isso ele tinha mais gastos e para ajudar a mesada que recebia de seu pai começou a trabalhar na agencia de Correios e Telégrafos.
            Na sua instituição de estudo foi redator da revista “A Época” onde publicou alguns artigos. Sendo um aluno distinto e aplicado a maioria dos seus colegas de sala indicaram que o poeta fosse o orador oficial da turma, que além de ser poeta se tinha a vantagem de não ser um aluno transferido.
            Chegando ao final de seu curso Silvino publica sua tese “Estética do Direito” (1924) que foi até traduzida para o inglês. Neste mesmo ano também publica sua obra prima “Cysnes” que lhe rendeu um conhecimento a nível nacional, que lhe fez ser reconhecido “Silvino Olavo era uma inteligência multiforme” (PINTO, 1962, p. 142).           Ainda na capital federal participou da Academia de Letras e Ciência, e da Academia Brasileira de Letras, onde se encontra apresentações de seus poemas.

4.   Regresso a Paraíba

Já como graduado o poeta regressa a Paraíba no ano de 1925 na companhia de seu amigo Peryllo D´Oliveira. Na Vila de Esperança Silvino inicia um levante em prol da emancipação, no dia 22 de maio de 1925, o então Governador da Paraíba João Suassuna compareceu com sua comitiva para a inauguração da luz elétrica na Vila. Vendo a oportunidade o poeta declama o seu famoso discurso “Esperança Lírio Verde da Borborema” que foi o estopim para o movimento de emancipação.
“Esperança Lírio Verde da Borborema, terra de juventude e de fé, sente-se hoje transfigurada no justo orgulho que a domina, na hora insigne a empolga, de receber, no seio de sua simplicidade comovida, uma das figuras mais representativas da sã política nacional. Esperança arvore nova, não consentirá em ser força dos arbustos que vicejam a sua sombra... E se o fizer, que o anátema da natureza caia sobre ela em todas os cóleras e tempestades e os duendes e espectros fantásticos bailem no seu sono atormentando, porque Esperança arvore nova, tem a natureza de querer ser também arvore boa, para prodigalizar, com a sua esplendidez nutridora do fruto, a fecundidade da semente e a espiritualidade do perfume” Olavo apud Ferreira (2010, p. 65, 66).

            Sendo conhecido como poeta, uniu-se com intelectuais da época e começou a sua produção literária escrevendo para vários periódicos, chamado de “Grupo dos Novos” que foi fundado por Silvino Olavo, onde destinava-se a promover reuniões literárias, na companhia de Amarílio Albuquerque, Eudes Barros, Raul de Góis e Peryllo D´Oliveira. Posteriormente foi chamado pelo Dr. José Gaudêncio para começa a chefiar a redação de “O Jornal”, participando também das publicações da revista “Era Nova” (1921-1926) e simultaneamente corresponde com o jornal “A Província” do Rio de Janeiro.
            No ano de 1926 começa a escrever para o suplemento Arte e Literatura do Jornal “A União” e em março do mesmo ano é nomeado promotor público em João Pessoa, onde foi inserido posteriormente no Conselho Penitenciário, que era uma Comissão constituída de autoridades, advogados e médicos, a qual era atribuída às funções de emitir pareceres sobre a liberdade condicional dos apenados.

5.    O laço de amizade com o Dr. João Pessoa

Em 1927, após fazer um concurso publico é aprovado para ser Agente Fiscal do Imposto de Consumo, em Vitória-ES, após honrar dignamente sua função no Estado de Espírito Santo, vem de maneira interina exercer sua função, ainda no mesmo ano. Ligando a política o poeta é nomeado pelo Governador João Pessoa, Oficial de Gabinete, estando nessa condição Silvino sempre acompanhou o Governador João Pessoa em suas viagens e representou o Governador em diversas ocasiões, principalmente pelo seu dom da oralidade.
Nos anos de 1929 e 1930 grandes companheiros de caminhada política chegam a falecer, João da Mata Correia Lima, João Suassuna e seu amigo João Pessoa, no meio dessas perdas de entes queridos Silvino veio a apresentar sintomas de esquizofrenia, iniciou assim a fazer o tratamento que se dava a época nos hospitais psiquiátricos, mas em nada contribuiu, sua saúde passava por uma situação cada vez mais grave. Quando ele tinha alguns intervalos lúcidos aproveitava para escrever, mas em maio de 1934 foi internado por sua própria esposa alegando que sua psicose lhe privava de suas atividades regulares, primeiro no Hospital de Doenças Mentais e Nervosas do Recife e depois no Hospital Juliano Moreira na Capital paraibana, onde passou mais de duas décadas recolhido.

6.   O amor e as produções literárias  

            Ainda em seu período de adolescência Silvino chegou a sofrer por amor, quando ficou de coração amargurado por conta de Severina, uma jovem que encantou seu coração, mas que lhe deixou abalado e lhe fez dizer “No meu jardim, de amor, foste a primeira”[2]. Em buscar de esquecer Severina e conseguir uma mulher que pudesse lhe fazer feliz o poeta conhece a jovem e bela Tércia, que chegou a noivar com a mesma. Mas algum tempo depois conheceu aquela que séria a mulher de sua vida, Carmélia, filha do Coronel Anísio e Dona Virginia. Já em novembro de 1929 Silvino tem o prazer de casar com sua noiva Carmélia Veloso Borges, na cidade de Pilar, deixando para trás todos os amores que machucaram o coração do poeta, juntos, Silvino e Carmélia tiveram a sua única filha Marisa Veloso Costa, que nasceu um ano e três meses após o casório, a filha querida teve uma vida passageira, vitima de um ataque cardíaco acabou morrendo aos 12 anos deixando muitas saudades nos corações de seus pais.
No ano de 1927 o poeta lança seu segundo livro de versos “Sombra iluminada”, editado no Rio de Janeiro, e também o seu estudo literário “Cordialidade”. Esse livro de versos produzido pelo autor teve um grande destaque e foi comentado por grandes intelectuais da época, com destaque para Samuel Duarte. a projeção crepuscular de um poeta que visiona, na paisagem humana do sentimento, harmonias discretas, em notas fugitivas que apenas deixam um rumor de asa macia e passam”. (Ferreira, 2014, pág. 41). Sendo nessa época comum autores comentarem a literatura nos jornais, outros intelectuais também fizeram análises acerca de suas obras Cysnes (1924) e Sombra Iluminada (1927). Como exemplo Rodrigo Octavio. “São poemas belos pelo conceito que os anima e pela forma porque se apresentam.” (Francisco, Cardoso, 1985, p. 99). Um dos poemas de mais destaque será:

CISNE BRANCO
O cisne branco nada sobre o lago
Rola tão leve que nos causa mágoa
e a sua sombra, refletindo n'água
rola tão leve com um sonho vago

E, assim, rolando, num prestígio magro,
o espírito parece da Mãe d'água
- ouço-lhe a voz e, intimamente, afago-a
como o que mais mereça meu afago

Ah essa voz que canta, e depois cala
Ah essa voz que a mim, somente, fala,
como a Nereide o búzio suas mágoas

Amo essa voz, porque essa voz suave
é a voz de minha dor, que em forma de ave,
vai rolando e cantando sobre as águas.
(Francisco, Cardoso, 1985, p. 21).


Dois anos depois da publicação e reconhecimento de suas obras Silvino teve a oportunidade de ter contato com Mário de Andrade o pioneiro da poesia moderna brasileira com a publicação de seu livro Pauliceia Desvairada (1922), e autor da obra Macunaíma (1928).
No final do século XIX o simbolismo surgiu na França, sendo um movimento literário da poesia e das outras artes, que ganhou destaque na Paraíba principalmente pela a imagem de Silvino Olavo, pois o sua subjetividade, a exaltação do místico e o sobrenatural encaixavam perfeitamente nesse movimento literário.

7.    À volta para a cidade natal e seus últimos anos de vida

            Sendo internado em 1934 por sua esposa em um hospital da Capital paraibana, a mesma só resistiu a rotina dura hospitalar com seu marido por 10 anos, quando veio a falecer. Nessa ocasião quem passou a ser o curador do poeta foi seu irmão Dr. Sebastião Cândido da Costa, que recebeu a ajuda dos demais familiares, os últimos anos de vida do ilustre esperancense foram em Esperança no Sítio Bela Vista, onde manteve o costume de passear diariamente pela cidade.  Com agravação total dos problemas de sua saúde Silvino Olavo veio a falecer em 1969, vitima de edema pulmonar agudo.
            Foram feitas homenagens pra nunca se esquecer a importância desse poeta para o Estado da Paraíba e a cidade de Esperança, antiga Banabuyé. A exemplo pode-se citar a denominação com seu nome, no centro cultural e biblioteca e no fórum da sala da defensoria na cidade de Esperança. A atual capital da Paraíba também se tem uma homenagem dando lhe o nome a uma rua no bairro de Tambauzinho. Na Academia de Letras de Campina Grande o esperancense é imortalizado com a cadeira de número 35 e Esperança comemora o seu centenário, com vários eventos. A “Revista Esperança” edita diversos artigos relacionados e alguns de seus versos. Marinaldo Francisco publica “Badiva” com o apoio da prefeitura local, que reúne vasto material do poeta, e a partir de 05 de Agosto de 2018 será homenageado pelo Instituto Histórico e Geográfico de Esperança – IHGE, com a cadeira de número 20.

8.   Considerações Finais

         Com enorme orgulho foi um prazer conhecer e produzir sobre a figura do ilustre conterrâneo Silvino Olavo da Costa, essa pesquisa luta para alcançar o objetivo de que a população tenha cada vez mais conhecimento dessa personalidade única, aqui foi mostrada toda a sua vida, foi visto a sua importância na literatura, no jornalismo e na emancipação do município de Esperança, sempre em busca de conhecer mais sobre o poeta e advogado que alcançou a inserção no grupo dos intelectuais brasileiros do século XX.
Portanto é notado que a arte seria como diz Richard Wollheim, uma “forma de vida”. O poeta nos deixou claro de que toda sua inspiração vinha de sua imaginação e suas emoções, onde conseguiu de maneira admirável transcrever sensibilidade e autenticidade através de seus versos.
Este grande poeta deixou-nos como legado as seguintes obras: Cysnes (1924), Estética do Direito (1924), Esperança – Lírio Verde da Borborema Discurso (1925), Sombra Iluminada (1927), Cordialidade de – Estudo Literário - 1º Série – N. York (1927) e Badiva, obra póstuma (1997).

Gustavo Tavares

Referências bibliográficas
- COSTA, Hasenclever Ferreira. Pseud. Rau Ferreira. Silvino Olavo. Epgraf. Campina Grande/PB: 2010.
- MAURÍCIO, João de Deus. A vida Dramática de Silvino Olavo. Unigraf. João Pessoa/PB: 1992.
- BATISTA, Simone Vieira. A trajetória intelectual de Silvino Olavo: uma análise histórica, cultural e educacional. 2011. 109 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal da Paraí­ba, João Pessoa, 2011.
- FRANCISCO, Marinaldo, CARDOSO, Roberto (Org). Cisnes/Sombra Iluminada. Editora Campina Grande. Campina Grande: 1985.
- Blog História esperancense (http://historiaesperancense.blogspot.com/2014/05/silvino-olavo.html), acesso em 01/07/2018.
- Blog História esperancense (http://historiaesperancense.blogspot.com/2017/11/discurso-de-posse-na-alcg.html), acesso em 05/07/2018.



[1] Graduando em Licenciatura plena em História na Universidade Estadual da Paraíba e sócio fundador do Instituto Histórico e Geográfico de Esperança – IHGE.

[2] Citado por João de Deus Maurício, em sua obra “A vida Dramática de Silvino Olavo”

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